terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Amy Lame


" - Penso que o que há de mais belo é sempre assim; provoca além do deleite também angústia.
- Como?
- Eis o que penso: talvez não achássemos tão linda uma donzela se atentássemos para o fato de ela ter o seu tempo e depois vir a envelhecer e morrer. Se algo belo devesse permanecer igual por toda a eternidade, isto muito me alegraria, mas eu conjecturaria com frieza: poderia ser sempre visto, não precisa ser hoje. Ao contrário, o que é perecível e não pode permanecer igual, ao contemplá-lo não sinto apenas alegria, mas também compaixão.
-Por certo!”
(Knulp, Herman Hesse)


Ontem, numa crise de insônia, peguei um livro da prateleira. Aqueles livros de estimação que ficam no quarto, porque de tão belos, a gente quer ter por perto. Às quatro da manhã aparece o parágrafo mágico! E eu acho assim... Assim mesmo, bonito uma palavra, um gesto e um cabelo meio torto, que logo se arruma, volta pro jeito certo (e sem graça, que se repete em cada esquina, justamente para ser admirado por todos).
Não a perfeição, o modelo da revista simétrico, musculoso com gel no cabelo. Porque esse tem em todo lugar e poderia admirá-lo com outros rostos, outras roupas e a qualquer momento.
Viva o cabelo que o vento despenteia a franja cortada demais, o rímel que borrou e o menino meio gordinho que recita poesia só pra você.
Beleza passa, beleza tem que ser gostada na hora por quem gosta. É relativa.


Sempre tive que me justificar dizendo isso, já que de todas as vezes em que me apaixonei foram por homens não tão convencionais assim. E depois de ouvir críticas sem fim, sempre acabava com a ilustre (e quase patenteada por mim) frase: Afinal, o que é belo?

G